COM CRISE, RICOS MUDAM CONSUMO DE LUXO EM SP.

Essa matéria foi publicada na Folha de S. Paulo de domingo, 15 de fevereiro por Vinícious Queiroz Galvão.... confira:

- Para evitar prejuízos, grifes esticam liquidações e criam mimos aos clientes -
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No shopping Iguatemi, que atrai a elite paulistana, até serviço de carregador de sacola e fraldário individual para as mães foram criados
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Quem passa pela Oscar Freire sabe - porque vê - que os tempos são outros. Liquidações temporãs com descontos que chegam a 80% em quase todas as lojas e vão até depois do carnaval, quando em anos anteriores não passavam das primeiras semanas de janeiro, tentam desovar o estoque encalhado.
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A própria rua, que no ano passado foi eleita, pela segunda vez, a oitava região mais luxuosa do mundo, à frente da avenida Champs-Eysées, em Paris, e da praça do Cassino, em Mônaco, sente nas calçadas os tempos de escassez da crise.
Com projeto de aterramento dos fios da rua Haddock Lobo e Bela Cintra entre a alameda Lorena e a rua Estados Unidos aprovado na prefeitura há um ano, os lojistas esperam patrocínio de bancos e bandeiras de cartão de crédito - que não vêm - para tocar as obras. As cinco quadras em cada uma das ruas custariam R$ 8 milhões - R$ 1,6 milhão por quarteirão.
"Tivemos a aprovação, mas não quer dizer que vamos até lá. Minha vontade seria que toda a região tivesse o projeto reurbanizado, mais infelizmente não é questão de opção. O caro não é calçada, não é mobiliário. O caro é o aterramento e sumir com os postes" diz Rosângela Lyra, presidente da Associação de Lojistas da Oscar Freire.
Otimista até a o último fio de seda do vestido Dior - ela é dona da marca no Brasil - , Rosângela não gosta de falar em crise, prefere ver o mundo num período de "adversidade". " É um movimento de incerteza".
"Passo por aqui quase todo dia e a sensação é que a rua virou um show-room. Não vejo ninguém sair das lojas com sacolas", diz a advogada Priscila Farias, sem nada nas mãos.
O shopping Iguatemi, que tem projeto de reurbanização das calçadas parecido para avenida Faria Lima, está na mesma. "Não diria que está parado, está no gerúndio, estamos avaliando", diz Charles Krell, vice presidente de operações.
MIMOS -
Para segurar a clientela, o Iguatemi investiu R$ 1,5 milhão numa série de mimos. Entre eles, carregadores de sacolas, um guarda-volumes, um balcão de informações sobre a programação da cidade, um fraldário decorado para bebês nascidos em berço de ouro (em vez das bancadinhas para trocar fraldas, há cabines individuais), trocou as escadas rolantes, abriu um serviço de embrulho de presentes e contratou até um " personal shopper" e consultoras de imagem.
"É para ajudar a personalizar a escolha de produtos. São mimos e atenção especiais. Muitas pessoas ficam em apuros", diz Krell. Por lá, as liquidações continuam - como na Dolce & Gabbana, com 60%.
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Na Daslu, os descontos fora de época - no nacional e no importado - estão na moda e andam na casa dos 70%.
Eliana Tranchesi conta que diminuiu as peças importadas ("porque estão muito caras"), está investindo mais em marcas nacionais e fazendo compras mais seletivas".
"Estou há 30 anos no mercado e já escutei milhões de vezes que esse ano é de crise, mas agora realmente acreditoque essa crise vai mudar o comportamento das pessoas", diz.
O comedimento do mercado do luxo se vê também fora da Daslu. Na Expand, rede importadora de vinhos uma promoção de 70% (iniciada em novembro e que vai até março) e o dólar com a cotação comgelada de R$ 1,60 (contra R$ 2,27 hoje no mercado) são as estratégias para manter vendas.
Lá, os rótulos que custam mas de R$ 100 deixaram de ser o foco, e as garrafas entre R$ 30,00 e R$ 100 passaram a vender mais. " O consumidor hoje é mais consciente em relação a preço" diz o gerente Rodrigo Lanari. Os Romanée- Conti, agora, só por encomenda. É que 18 garrafas do Petrus, que chegavam a R$ 25 mil, estão encalhados, embora estejam com desconto, a R$ 9.800.
Em restaurantes de alto gastronomia como o D.O.M. e o Fasano, em que preciso fazer reserva com ao menos duas ou três semanas de antecedência, hoje é possível conseguir mesa para ao mesmo dia.
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"Está todo mundo pobre, não tem mais luxo", exagera o florista Vic Meirelles, famoso entre o círculo das milionárias paulistanas. "As mulheres ricas estão mandando empregada comprar flores na feira e na Ceagesp. Só me chamam agora quando não conseguem fazer arranjos complicados", diz.
"Também estão colocando folhagem e flores que duram mais, como orquídeas. Sinto todo mundo bem cauteloso na hora de fazer casamento e festa. Elas dizem: "Tenho tanto pra gastar e não extrapole"".
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A empresária Miriam Ofenhejm Gotfryd diz que o momento " é de reavaliar os conceitos de consumismo" e "usar o dinheiro de forma mais inteligente, sem perder o prazer".
"Estou cultivando hábitos prazerosos para substituir o supérfluo, como sair para comprar flores e passar por galerias de arte. Agora, levo o presente só na cabeça. O mesmo dinheiro compra o feio e o bonito, vai da educação de cada um", diz.

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