O Futuro da Moda: Reflexões e Provocações no São Paulo Fashion Week
O São Paulo Fashion Week (SPFW) mais uma vez trouxe à tona discussões importantes sobre o futuro da moda, não apenas no Brasil, mas globalmente. No centro dessas conversas, o fundador do evento, Paulo Borges, questionou como será o futuro da moda em um talk com o visionário Jum Nakao e a modelo e apresentadora Carol Ribeiro. Esse encontro trouxe à luz profundas reflexões sobre os rumos da indústria e o que ainda precisa ser feito para transformar a moda em uma força realmente inovadora, sustentável e inclusiva.
Paulo Borges, sempre provocativo, usou sua posição como líder do maior evento de moda do país para lançar uma pergunta: “Como será o futuro da moda?”. Ele reconheceu que está construindo seu próprio futuro e incentivou todos a repensarem o que isso significa. Mas, em meio a essa reflexão, surge uma questão que ecoa entre muitos profissionais e entusiastas da moda: por que demoramos tanto para iniciar essa transformação? A indústria, que há muito se apoia em tendências e status quo, finalmente está começando a questionar sua própria estrutura.
Jum Nakao: “Eu não quero a moda de antes”
Em sua resposta, Jum Nakao foi direto: “Eu não quero a moda de antes”. Para Nakao, que marcou a história da moda com seu icônico desfile de roupas de papel em 2004, esse momento foi um fim, um ponto de ruptura com o que a moda significava. Ele acredita que a pergunta sobre o futuro está atrasada, pois a transformação já começou há muito tempo. O próprio Nakao se afastou dos holofotes dos desfiles para se dedicar a outros projetos que abordam as interseções entre tecnologia, arte e educação, sempre com um viés de inovação disruptiva.
Nakao é reconhecido por seu trabalho à frente do projeto Manufatura, onde explora a relação entre artesanato e tecnologia digital, um exemplo de como ele já está vivendo esse futuro. Seu objetivo é criar uma moda que transcenda o físico e se conecte com valores culturais, sociais e tecnológicos.
Carol Ribeiro: A Mudança Já Começou
Carol Ribeiro, por sua vez, refletiu sobre como essa mudança de cultura já vinha acontecendo no backstage das passarelas, muito antes de ganhar a atenção do grande público. Ela mencionou que viu amigas modelos se recusarem a desfilar com peles muito antes de isso se tornar um debate mainstream. Para Carol, essa transição é parte de um processo de aprendizagem, onde a indústria está tentando descobrir como se tornar verdadeiramente sustentável, sem exigir perfeição imediata. Ela está envolvida com projetos de educação ambiental e conscientização na moda, participando de iniciativas que promovem práticas mais éticas e responsáveis no setor.
O Que Está Faltando no SPFW?
Apesar de toda a discussão sobre o futuro da moda no Brasil, surge uma provocação: por que a Osklen, maior referência em sustentabilidade na moda nacional, não estava presente nessa “pensata” do evento?
A Osklen, com seu fundador Oskar Metsavaht, é pioneira no Brasil ao criar uma moda consciente, baseada no uso de materiais sustentáveis e na valorização das comunidades envolvidas no processo produtivo. A marca já tem uma longa trajetória na defesa da sustentabilidade como pilar central de sua proposta, algo que poderia ter enriquecido ainda mais o debate no SPFW.
Criatividade e Sustentabilidade: O Novo Caminho
O SPFW de 2024 mostrou que a moda não pode mais ser vista apenas como algo passageiro, regido por tendências superficiais. A transformação profunda que Jum Nakao e Carol Ribeiro enxergam já está em curso e exige uma reflexão maior sobre sustentabilidade, diversidade e inovação tecnológica. No entanto, ainda há uma longa jornada pela frente. Paulo Borges, ao incentivar essas discussões, também nos leva a questionar o ritmo dessas mudanças: por que demoramos tanto?.
A moda do futuro será guiada por novos curiosos, como bem colocou Jum Nakao. Serão aqueles que questionam, duvidam e não aceitam as certezas impostas. E, mais importante, será construída sobre os alicerces da dúvida, da experimentação e da vontade de fazer diferente.
O SPFW, como o maior palco da moda brasileira, precisa abraçar completamente esse movimento de transformação, para que toda a cadeia têxtil possa encontrar seu lugar e seu valor, criando uma moda que seja, de fato, relevante para o futuro. E essa jornada começa não apenas com desfiles, mas com diálogos e iniciativas práticas que envolvam todos os atores do setor — desde os criadores até os consumidores finais.
Que Venha o Novo
A moda brasileira precisa de curiosidade, questionamento e ousadia.
A criatividade nasce das incertezas, e é nelas que vamos encontrar o caminho para um futuro verdadeiramente sustentável e inovador. Que venham os novos tempos, com novos curiosos e inquietos prontos para reinventar o que conhecemos como moda.
Renata Chaves.